Vencedor do Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, em 1990, "Mistério em São Sebastião" é um romance de suspense e ritmo eletrizante, em que o leitor acompanha, ávido pela próxima página, as investigações do professor Arduíno, católico fervoroso e devoto de Santa Terezinha, e do inspetor Torquato, um policial cético e bonachão, sobre a misteriosa onda de assassinatos que aterroriza a pacata São Sebastião.

"No espaço de um único mês, mataram, no arraial, a menina Das Dores, que morava na invasão perto do córrego, o vigia do condomínio fechado e o casal de operários que trabalhava na mineração, mas isso era coisa que os homens fingiam ignorar, preferindo dizer que São Sebastião, enfim, acordava para o progresso, trazido pela presença de gringos e indústrias e consumado pela existência corriqueira de crimes hediondos, daqueles que só acontecem onde a honra e a decência, existentes no coração dos homens, cedem lugar ao dinheiro e à posse."

A morte súbita do fazendeiro mais influente da vila, o Coronel Salazar, que sofre um infarto fulminante ao ser atacado por um dos seus cães, e a presença do suspeito dos crimes no casarão em que o corpo do Coronel está sendo velado desencadeiam uma revolta entre os moradores, culminando num grande incêndio e numa perseguição frenética pelas ruas da cidade.

"Morro do Rosário, morro da aflição e do desconforto. Apesar de bêbeda e trôpega, a turba corre como o vento de agosto em São Sebastião. Devo acelerar a passada - que já é quase o meu limite - e volto a cabeça a intervalos para consultar a distância que me separa dos meus perseguidores. Distingo entre eles a figura hirsuta de Ananias, completamente refeito da refrega no canil, cabeleira ao vento e o corpanzil atirado como bólido para a frente."

Religiosidade, tabus comportamentais e os impactos socioeconômicos da mineração perpassam a trama ricamente construída pelo autor, composta por personagens fictícios que povoam cenários idílicos e reais de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima.

"Levantei-me e escancarei o janelão que dava para o Morro do Rosário. Em seguida, contei as estrelas que se amontoavam no céu do Morro da Liga, do outro lado da várzea. Vinte e uma, ao todo, para não falar na Via Láctea que se estendia feito um cinturão, ligando os dois morros num só fardo."

O autor

José Roberto Moreira de Melo é mineiro de Araçuaí, onde nasceu e passou a infância. Reside em Belo Horizonte (MG), é advogado tributarista e servidor aposentado da Receita Federal. Iniciou sua trajetória como escritor em 1989, aos 43 anos. Venceu o Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, em 1990, com o romance "O mistério de São Sebastião". Também publicou o romance "A Lei de Gerson", a novela policial "Armação em Búzios" e as coletâneas de contos "Mansão Hollywood", "Memórias execráveis" e "Tempos de enfado". É autor, ainda, dos romances e novelas da coleção "Jequitinhonha, a terra, a gente", nos quais a criação ficcional é entrelaçada a fatos históricos, lendas e personagens folclóricos do Vale do Jequitinhonha. Prevista para ter dez obras, a série já tem seis títulos publicados: "Contos do Vale", "O último trem para Filadélfia", "O Rio das Araras Grandes", "Nanuque, o herói do Mucuri, "A virgem de Gravatá", e o mais recente, lançado neste ano de 2023, "O Bicho de Pedra Azul".