About the Book
PRÓLOGO Se a semente da eternidade não tivesse sido lançada em nossos corações enquanto ainda éramos crianças e brincávamos nos jardins do paraíso por algo ou alguém que pudesse lhe garantir o devido lastro, hoje, todos nós, homens e mulheres que caminhamos sob o sol, encararíamos a vida, não como sendo esse tecido fino e sem fim que é o objeto de estudos da esperança, mas sim, como uma doença terminal que contrairíamos ao assumir a consciência do existir. Vagamos por muitos caminhos dentro e fora das esferas do nosso parco entendimento buscando explicações que, de forma segura, nos apresentassem com clareza essa certeza velada de eternidade que nos faz seguir em frente mesmo com todas as adversidades que nos cercam e que, por experiência, nos mostram que somos efêmeras sombras ao sol e que, como sombras, estamos sujeitos ao humor das nuvens que podem, a qualquer momento, impedir que os raios da luz solar nos tornem visíveis aos olhos da realidade. Talvez não exista um lugar na terra, onde se encontre de forma palpável, uma prova da existência desse elo perdido entre a humanidade e sua origem divina; talvez, até exista, mas a verdade é que até o presente momento, ninguém conseguiu descobrir uma evidência que possa ser exposta ou, simplesmente, mesmo que de forma fugaz, ser tocada pelas mãos, desvendando assim, todos os passos dessa nossa, porque não dizer, deliciosamente amarga caminhada pelos tempos. Muito embora não possamos perceber, não por descuido ou por qualquer outra forma de desleixo da nossa parte e sim, por uma espécie de proteção que se ativa em nossas essências logo assim que deixamos as bordas do paraíso, as portas para descoberta de todos os mistérios se encontram logo atrás dos nossos olhos e não diante deles. Esse filtro protetor nos permite, inicialmente, abrir somente as passagens que se encontram ao alcance dos olhos, pois essas garantem a sobrevivência da carne e, se sobrevivermos às lutas físicas, preservando a pureza do coração, conquistamos o poder de, ainda nessa parte dos tempos, acessar as partes do livro sagrado onde encontram-se escritas nossas crônicas e, o que é mais fantástico ainda, às vezes, mas somente, às vezes, conquistamos o direito de escolher o final, não de nossas histórias, mas o final dessas narrativas curtas que as compõem e, de maneira inexorável, contribuem para seus desfechos finais; finais porque nós humanos temos essa coisa de Shiva, de insistirmos que algo só possa ter um recomeço quando um final acontece, mas ...infelizmente, ou felizmente, não sei, poucos de nós percebemos as portas dessa realidade além do físico e, dos poucos que são agraciados com essa percepção, a grande maioria fica presa pelas correntes do constrangimento invisível que amarra os passos dos que se atrevem longe das órbitas pensada para as multidões... Não, a vida não era uma doença terminal, havia acabado de perceber isso de maneira incontestável; sim, eu poderia mexer nos fragmentos e alterar os corpos das crônicas de uma maneira que esses pequenos ajustes alterassem suas conclusões e, me tornassem assim, não o portador de um voar pernicioso ou inócuo pelos dias, mas uma nave com o poder de espalhar notícias da eternidade. Bastaria que eu começasse a procurar por mim mesmo, dentro de mim mesmo e, sem possibilidade de errar, encontraria as marcas do meu Criador, era como se, de repente, eu tivesse descoberto meu próprio manual de fabricação e, num processo de tecnologia reversa, pudesse reconstruir-me sem uma única falha.