Não há palavras que definam plenamente, ou com alguma precisão, a incrível experiência de proporcionar vida a outro ser humano. Milagroso, espiritual, fantástico, transcendente, as ações e sentimentos ultrapassam o limite do conhecimento e caímos em áreas obscuras, fronteiriças a compreensão, que nos conduzem a experiências propiciando um mergulho no mais profundo e até mesmo evitável da existência.
É processo de transição, autoconhecimento, requer foco, dedicação e convida a uma reforma na maneira de agir e pensar. É um chamado à empatia e ao amor pleno que se desperta no mais profundo da alma.
Então ser pai não é somente a condição de propiciar material genético, mas sim a fantástica experiência que um homem pode vivenciar, sendo facilitador e condutor de uma nova consciência que se manifesta no mundo, ganha vida, dinamismo e se estrutura de forma tal a se tornar autônoma e independente. Somos então veículo, momento, meio propiciador ao outro que vem do desconhecido e ingressa em nosso plano existencial, tornando-se novo indivíduo, autossuficiente nesta dinâmica sociedade em que vivemos.
E são muitos os campos envolvidos neste complexo processo, genética, relações familiares, relações sociais, desenvolvimento físico, desenvolvimento cognitivo, equilíbrio emocional e psicológico, enfim, podemos elencar inumeráveis campos abordados pelo processo. Mas aqui torna-se mais relevante a transformação que a paternidade propicia ao ser humano que está disposto a vivenciar esta experiência de profundo amor e contato existencial.
Como humanos nesta jornada cheia de mistérios e incertezas, ao optarmos por trazer ao mundo outro ser humano, assume-se a responsabilidade de prover amparo físico, espiritual e psicológico a este novo membro do planeta Terra. De forma tal que propicie segurança, conforto e o despertar intelectual e emocional dessa prole. É uma tarefa que requer planejamento e profundas reflexões de forma a evidenciar alternativas e modos operacionais, tirando a vida do piloto automático e buscando liberdade de escolhas e de mudanças que gerem resultados concretos e edificantes a essa relação parental.
Há consciência que a paternidade será diferente a cada indivíduo, refletindo seu momento de vida e sua visão de mundo, mas a proposta deste livro é trazer à tona a minha experiência, e claro, o meu momento de vida. Uma vivência, não como modelo a ser seguido, mas sim num relato que propicie reflexões e aborde este assunto muitas vezes evitado e atualmente tão carente de material científico.
Iniciamos este trabalho, que na verdade é um grande desafio, planejando colocar em palavras a experiência vivida na paternidade, trazendo nuances dessa aventura vivenciada pelo ser humano e que transforma drasticamente o modo de ser, pensar e encarar o mundo.
Abandono neste trabalho o olhar de pesquisador e psicólogo, dando-me a liberdade de expressar livremente o momento vivido, as nuances únicas e os sentimentos como pai. Não é um autorelato ou uma bibliografia, mas sim a oportunidade de reflexão deste momento tão nobre e humano de minha vida.
Espero que neste trabalho fique expresso a experiência de transformação ocorrida no processo, trazendo à tona reflexões que possam ser analisadas e discutidas segundo o olhar de quem vivenciou a chegada ao mundo de uma criança e que teve de se adaptar as necessidades impostas pelo ambiente, pelo cônjuge, pela criança em si, mas além de tudo isso, pelas situações que tomam as rédeas da vida nos conduzindo por caminhos não imaginados.
Assim trazemos um fragmento de vida, tendo a oportunidade de eternizar o amor em forma de livro e compartilhar algo tão nobre como a paternidade.
Então seja bem-vindo a essa profunda e maravilhosa experiência existencial, que é ser pai!