A presente composição do livro Puríssimas: o movimento, constituí o sétimo livro de poesias (oitavo volume das obras poéticas reunidas) de Marcos Moura Vieira. O livro está organizado tal o seu duplo, Indecenteanas: a pausa - em Prólogo, Ato um, Movimento (um entreato), Ato dois e Epílogo.
O ato um, As Criatures, tem quatro cenas: Pretes-índics, Cabocles, Ciganes e Gigantes. O ato dois, A Criação, tem uma pré-cena B_ (de Banimento) e mais quatro cenas: Búzios, Bebidas, Baralhos e Batuques.
Os poemas performados no Prólogo foram escritos a partir do mês de fevereiro de 2020 - quando passamos a conviver com a ameaça do novo COVID 19. As poesias verbo-visuais realizadas e publicadas nas mídias eletrônicas do poeta Marcos Moura Vieira, no facebook e instagram, foram Identificadas com a hashtag #Covidicas poesias singelas para espantar pandemias e algumas delas foram registradas em áudio e disponibilizadas em podcast.
No ato um, as criatures, os textos poéticos foram sampleadas com outros escritos verbo-visuais, cumprindo o mote do autor de, no uso quotidiano das mídias sociais, não somente postar, mas principalmente de realizar a poesia. Os poemas apresentados agora no formato genérico de livro de poesia, foram criados, inicialmente, em dialogo com postagens midiáticas. A escritura nas mídias recorreu ao uso de colagens de fotos, releitura de cartoons, edição de comentários, mensagens e outras postagens no facebook, no mensager, no WhatsApp e nas páginas do instagram @mouravieira.poéticas e @mouravieira.oficial.
As poesias que aparecem no ato II: a criação, materializam a quarta seleção e reunião de poemas do autor, escritos nos últimos, primeiros, 23 anos do século XXI. Foram ordenados tendo como temática a religariosidade, principalmente no encontro sincrético das influências católicas e das religiões de matriz afro-indígenas brasileiras.
No período pós-pandêmico temos visto muitas obras artísticas, em diferentes disciplinas e suportes, refletirem e refratarem suas vivências na linha de fronteira com a doença, a morte e a sobrevivência. A construção do livro das Puríssimas: o movimento, se ancorou na possibilidade da retomada dessa "nova" realidade, recorrendo ao ato mágico da poesia, tal uma paga de promessa: uma oferenda de ex-votos, de cânticos, de orações, de mesinhas. As Puríssimas se atiram das criatures para a criação, religando, nesse movimento, a gratidão do poeta pela possibilidade de retomar da vida a sua puríssima voragem.
Voragem
É como o coice de uma besta enorme
Sobre o monturo da vida empedrecida
Ou quebra a pata e aumenta a fúria manca
Ou lasca a redoma e a razão se espalha
(de qualquer forma alguém fica ferido)
Marcos A. Moura-Vieira
Amsterdam, março 2024