A história do cristianismo começa, na maioria dos livros a ele dedicados, no segundo século, à medida que se tornam disponíveis literatura e documentos que a contam e atestam. No que diz respeito ao primeiro século, a maioria das histórias gira em torno do personagem do apóstolo Paulo, um evangelista de primeira ordem, que incansavelmente anunciou o Evangelho na Ásia Menor e na Europa, até sua morte como mártir em Roma nos anos sessenta. Na maioria das Bíblias contemporâneas encontramos, aliás, no final dos volumes, um mapa que relaciona as três viagens missionárias de Paulo.
Mas, longe disso, a história da Igreja e da fé cristã não começa com São Paulo e não se limita apenas às suas viagens. O livro de Atos dos Apóstolos nos dá muitas informações sobre outros personagens que muito contribuíram para a expansão do Evangelho no mundo. Sem insistir muito neles, mas sem ignorá-los, o segundo livro de Lucas nos conta muitas histórias que vários comentaristas passam em silêncio, cativados pelos relatos detalhados das missões paulinas, apoiados por numerosas cartas que ele havia enviado às igrejas fundadas por ele ou por outros.
Os evangelistas citados no livro de Atos são numerosos. Entre eles, podemos citar Pierre, Barnabas, Marc, Etienne, Philippe, Epnaetus, Lucius, ... e todas as pessoas anônimas que os acompanharam ou cercaram. Muitos deles eram do norte da África.
As viagens missionárias registradas no Novo Testamento começam com o mandamento dado por Jesus de ir por todo o mundo e anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Além dos Doze e dos discípulos que os cercavam, incluindo os setenta, Jesus preparou um homem -cujos mistérios ainda não foram explorados- para desempenhar um papel de liderança, embora discreto, na evangelização e na fundação das primeiras igrejas. É Simão de Cirene, o mesmo homem que foi obrigado a carregar a cruz de Jesus no caminho do Calvário, do Gólgota, no dia da crucificação do Filho de Deus. Ele foi o último companheiro afortunado de Jesus, que viveu para nos contar esta história. Os outros dois morreram na cruz junto com o Mestre.
Muito se tem falado sobre Simão de Cirene. E a iconografia tardia o retrata às vezes como um jovem musculoso, às vezes como um homem idoso com uma longa barba branca. Em outras pinturas, ele está vestido com roupas romanas ou egípcias, enquanto em muitas ele foi retratado como um escravo negro. Alguns atribuíam-lhe a profissão de carpinteiro, enquanto outros o declaravam comerciante ou viticultor. No entanto, o texto bíblico contém pistas suficientes para nos permitir descrevê-lo com mais precisão.
O relato que você está prestes a ler conta a história de Simão de Cirene e seu legado espiritual por meio de seus filhos e de um amigo deles, o evangelista Marcos. A informação utilizada provém principalmente do Novo Testamento, ainda que por vezes se tenha recorrido a fontes secundárias. Você descobrirá por que esse norte-africano foi escolhido para acompanhar Jesus ao local da execução e como essa experiência serviu a Pedro, Barnabé e Paulo e outros para espalhar o Evangelho por toda a bacia do Mediterrâneo, de Cirene na Líbia, passando por Jerusalém na Judéia, Antioquia na Síria, Cartago no Norte da África, Roma, capital do Império, Alexandria no Egito, e até os confins da Terra, Espanha e Catalunha, terminando em Avignon, no sul da França.